Quaresma: tempo para partir, para orar, para amar e perdoar

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Em sua Mensagem para a Quaresma de 2015, o papa Francisco aborda o tema da indiferença e faz uma reflexão muito oportuna para os tempos que correm, marcados pela exasperada busca do gozo individual da vida.

Fala da indiferença diante dos sofrimentos do próximo, das muitas tragédias humanas em curso, diante das quais poderíamos ficar, simplesmente, indiferentes ou neutros, uma vez que isso se passa lá longe e não nos ameaça de perto…

Há o drama dos migrantes e do tráfico humano, tão sentido na Europa meridional, sobretudo na Itália e na Espanha; o Mediterrâneo é rota de chegada de muitos imigrantes clandestinos à Europa, traficados com frequência por organizações criminosas, que os exploram e, depois, os abandonam à própria sorte. Muitas milhares dessas vítimas já pereceram nas águas do Mediterrâneo.

Também há as tragédias das guerras em curso e de ações selvagens de grupos intolerantes e terroristas, que tentam impor seu poder aos outros pelo terror. Muitos cristãos e outros grupos religiosos estão sendo vítimas dessa fúria insana. Este é um tempo de muitos mártires!

Enquanto essas coisas acontecem longe de nós, tendemos a ficar indiferentes ao drama de quem sofre. Infelizmente, as notícias e imagens sobre as tragédias humanas tendem a despertar mais curiosidade do que solidariedade. Ouvimos falar de pessoas que foram seqüestradas, decapitadas, degoladas, crucificadas, queimadas vivas e isso nos parece coisa de cinema… E ficamos indiferentes; afinal, não poderíamos fazer nada mesmo para mudar as coisas…

Mas não faltam dramas humanos bem perto de nós; nem por isso nos envolvemos. Temos sempre uma boa razão para justificar nosso não envolvimento com os sofrimentos alheios. Mas não deveria ser assim e o Papa nos chama a mudar nossa atitude, como parte de nossa conversão quaresmal. Os cristãos são chamados a se envolver com os outros: “se um membro, todos os demais membros sofrem com ele” (1Cor 12,26). O exemplo de Cristo Jesus, que se solidarizou conosco e assumiu nossas dores e as carregou em seu corpo deveria ser nossa referência.

O cristão experimenta o amor de Deus e a solidariedade de Cristo: “tanto Deus amou o mundo, que lhe enviou se Filho único, para que não pereça todo aquele que nele crer, mas tenha a vida eterna” (cf Jo 3,16). Por isso, exorta o Papa, os cristãos e cada uma das organizações da Igreja devem ser “ilhas de solidariedade” num mundo cada vez mais fechado à fraternidade.

“Onde está teu irmão?” (Gn 4,9); esta pergunta, feita por Deus a Caim, depois do assassinato de Abel, continua a ser feita a cada um de nós também, desafiando-nos a ficar atentos às situações vividas pelos outros, não buscando apenas o próprio bem. A Igreja é um corpo e, em cada uma das nossas comunidades eclesiais, deveria ser voltada uma atenção especial para os membros mais frágeis, os pobres, os doentes e os pequeninos. Um amor meramente ideal e universal não pode deixar sem atenção os Lázaros concretos que jazem à frente das nossas portas…

A Quaresma é um tempo propício para nos voltarmos para os outros; a Campanha da Fraternidade, promovida pela CNBB todos os anos, vai nessa direção e nos aponta sempre para alguma dimensão específica da vivência do amor ao próximo, inseparável do amor a Deus. O Papa nos convida a superarmos a “vertigem da indiferença”, saindo do fechamento em nós mesmos e voltando nossa atenção ao próximo, com suas necessidades e sofrimentos.

Fonte – www.cnbb.org.br

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